Universo: o desafio de desvendar a origem de tudo
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Na terça-feira, cientistas do Centro Europeu para a Pesquisa Nuclear (Cern) anunciaram ter conseguido, pela primeira vez, colidir feixes de prótons no maior colisor de partículas do mundo, o LHC. Os responsáveis pelo aparelho disseram que a máquina desencadeou choques de prótons geradores de uma energia recorde, com o objetivo de recriar condições similares à da grande explosão que teria dado origem ao universo, o Big Bang.
O LHC é a maior máquina já construída em todos os tempos. Com 27 quilômetros de extensão e cem metros abaixo da superfície, demorou 14 anos para ser montado e custou cerca de 8 bilhões de dólares. Por meio dele, os físicos recriaram as condições em se deu o primeiro trilionésimo de segundo de existência do universo. Isso é um feito de extraordinárias consequências práticas e teóricas. Equivale a lançar uma sonda capaz de viajar 13,7 bilhões de anos no tempo e registrar o espaço a sua volta, transmitindo dados para o mundo atual instantaneamente.
O colisor de partículas é a tradução do esforço humano em desvendar os enigmas do universo. Um dos maiores expoentes na área do cosmos é o astrofísico americano George Smoot, que ganhou fama ao mostrar, em 1992, o que a imensa maioria dos cientistas tinha esperanças de ver algum dia: uma prova de que o universo nasceu mesmo de uma explosão primordial, o Big Bang. “Se os senhores forem religiosos o que eu vou mostrar equivale a olhar o rosto de Deus”, disse na época aos colegas ao apresentar o estudo. “Encontramos as provas do nascimento do universo”, acrescentou.
As descobertas de Smoot foram baseadas nos dados colhidos pelo satélite Cobe, um artefato desengonçado do tamanho de um fusca. Esse satélite pesquisou uma região distante mais de 14 bilhões de anos-luz do sistema solar, onde estão fossilizadas as marcas de nascença de conglomerados de estralas deixadas ali pela violência das reações dos primórdios do universo. E, sem que se esperasse, lá estava a prova de que tudo que existe – a Terra, as estrelas e as galáxias – é resultado da explosão de uma esfera de energia menor do que uma bola de pingue-pongue, o Big Bang.
Antes do trabalho de Smoot a teoria da súbita explosão inicial estava balançando. Muitos cientistas diziam que ela não caia apenas porque não existia outra melhor para colocar no lugar. Em 1982, o cientista americano Richard Gott propôs a existência de não apenas um, mas vários universos. Eles estariam distantes uns dos outros e fechados em si mesmos, como bolhas num refrigerante. Naquele mesmo ano, outra teoria chegou a convencer alguns cientistas, mas foi logo descartada. O astrônomo inglês Paul Birch disse que o universo, além de se expandir, giraria em torno de si mesmo. Derrubada sua teoria, nunca mais se ouviu falar dele. E o Big Bang se manteve como a melhor teoria para explicar o nascimento do universo.